Prazer, jovens escritores, sou o Rose Kethen e aqui encontrará o que é a bendita “Pirâmide do Roteiro” e como funciona. Então vem comigo!
Para que servem as histórias?
A primeira coisa que preciso deixar claro é que a pergunta “o que é uma história?” é bem inútil. Na verdade, o que precisamos entender é o “para que serve uma história” no sentido psicológico, e, também, na história das histórias.
Aí é necessário que saibamos como que o ser humano absorve histórias para podermos, ao criar uma obra, saber o que estamos afetando no consciente e inconsciente. Se pensarmos o que diferencia os seres humanos dos animais, é a forma como o cérebro humano pega os sentidos e tenta decodificá-los para criar significados; para ter algum controle.
Temos os lados direito e esquerdo do cérebro. O esquerdo sendo o lógico; o direito, o emocional. Só que tem um problema. Toda vez que recebemos uma informação, primeiro passa pela decodificação do lado lógico, mas não conseguimos lembrar dessas coisas nem se importar com elas se não passarmos a mesma informação pelo lado emocional.
Então, para essa informação ficar conosco pelo resto da vida, é exigido que passe pelos dois lados do cérebro — só assim retemos uma memória e um conhecimento.
Por exemplo os sentidos: visão, audição, tato… A gente pega e decodifica isso através desse lado mais lógico, porque precisamos de controle. Ocorre desde o início dos tempos, quando éramos apenas homens das cavernas: Olhávamos uma planta e o nosso objetivo era ter o controle sobre ela; se pudéssemos nos alimentar com ela, então tocávamos, comíamos, descobriríamos o gosto e se tinha algum problema em comê-la.
Só que os sentidos podem enganar. Se você visse uma plantinha vermelha, a comesse e desse em nada, suavão, né? Mas e se você visse uma plantinha MUITO PARECIDA com a vermelha, a comesse e te fizesse mal? E se ela te matasse? Como é que explicariam para alguém que aquela planta faz mal?
Aí vem aquilo: Como é que alguém passa conhecimento e memória de forma que levem em consideração que nossos sentidos e emoções às vezes nos enganam?
Por exemplo, imagine que recebeu uma grande notícia — muito emotiva — que alguém muito próximo a você morreu. Essa notícia vai trair um pouco a sua lógica, porque você não necessariamente controla suas emoções. Você vai chorar, desesperar, ficar com raiva, frustração, rancor… Bem, sentirá muitas emoções, mas não será capaz de refletir sobre aquela morte no exato momento.
Pode ser que no velório, dias, meses ou anos depois, você passe a pensar no que aquela pessoa significou para você, de uma forma a retirar algum conhecimento, de alguma memória. Então essa é a dificuldade do ser humano: Quando a emoção tira totalmente a nossa lógica. E, quando a lógica, sem emoção, faz com que a gente não tire o sentido das coisas.
Histórias, geralmente, vêm de uma maneira a você passar conhecimento para outros, de uma forma que tem emoção. Como é um acontecimento, às vezes, fictício ou que é uma coisa que já aconteceu e você não criou distância emocional — uma vez que passou muito tempo/que aconteceu com outra pessoa —, você tem essa distância suficiente para poder pensar sobre.
Então, o objetivo de contar uma história é você retirar conhecimento através de uma experiência do outro. Mesmo se a experiência “do outro” seja a sua, ainda é no sentido que “outro” passou por algo que você já passou, afinal você não está tendo aquela experiência no momento, logo não está totalmente imerso na experiência a ponto de pensar nela.
Um professor pode chegar na sala de aula e dizer 1+1 é igual a 2, e você vai lá e anota. Claro, isso é algo super-lógico. Mas a razão pela qual você sabe e compreende isso é porque tem alguma experiência.
O emocional tem sempre muito a ver com a experiência que, todo dia, pode ser que tenha recebido dos seus pais um dinheirinho para uma bala e viu que sobrou dinheiro suficiente para comprar outra bala. Daí você viu que agora tinha DUAS balas. E essa experiência é muito comum, não só acontecendo com bala.
Essa experiência do 1+1 = 2, que é totalmente lógica, torna-se parte da sua experiência comum do cotidiano, realizando-se como um conhecimento.
Agora, imagine que esse conhecimento lógico é uma coisa mais abstrata que você não terá experiência todo dia. Por exemplo, que em 1942 rolava a Segunda Guerra Mundial. Você vai anotar as coisas da aula, copiar para a prova e tira uma nota lá, só que aí passa-se anos e você nem necessariamente lembra que ano era essa guerra. Mas não é porque você não se importa com o que aconteceu nesse período, é porque aquilo não está fazendo parte da sua experiência no momento; não é relevante à sua experiência.
Por exemplo, houveram manifestações para o aumento da passagem do ônibus e teve até a saída da Dilma, ou do primeiro turno para Presidente em 2022, cheio de tensão do Lula vs. Bolsonaro, onde os dois tentaram de tudo desqualificar o partido do outro. Foi uma coisa que tem mais a ver com a nossa experiência mais atual. Quando lembra dessas coisas é porque aquilo fez parte da sua experiência. Afinal quando não faz parte da sua experiência, e é um conhecimento extremamente importante, tipo a frutinha vermelha que pode te matar se comer. Então uma forma de passar isso adiante, para outra pessoa, é com uma história.
Como o ser humano deseja ter controle dos próprios sentimentos, afinal buscamos ter controle de tudo, então temos que esconder que estamos ensinando alguma coisa para outras pessoas. Se eu chegar para você e falar que é para votar no candidato x ou y, você vai falar que não vai, porque não tem nenhuma conexão, nenhuma experiência, com aquilo.
De forma parecida, se você chegar para uma criança e dizer que não é para subir uma estante, porque, se subir, vai cair e se machucar, o que acha que ela fará? Com certeza vai ter a experiência de subir na estante e cair, ou só não cair também. Aí, se ela cair, vai ter a experiência da dor — de um pé torcido ou um braço quebrado, talvez —, e com isso vai obter o conhecimento de “pera aí, talvez não seja uma boa ideia subir em estantes”.
E precisamos entender que uma história vai pegar uma pessoa — sempre uma pessoa, independente de ser um animal, um robô ou uma torradeira falante; que seja, desde que seja do ponto de vista da “pessoa”. Ou seja: Pessoa = humano. Um ponto de vista HUMANO. Aí devemos pegar esse ser humano e testarmos em relação a alguma coisa, um conflito.
Se fala que toda história possui conflito. Isso é uma constatação muito comum por conta dessa forma que vemos as pessoas saírem do conflito, se vencem ou perdem, se mudam ou não, se aprendem algo ou não… transformam, modificam… Enfim, se gera consequências. As consequências dessa história, conscientemente ou não, ensinam algo.
Pode ser um ensinamento emocional, um ensinamento lógico, ou pode ser ambos. Só que é um ensinamento que não é totalmente didático.
Não segue aquilo de “ei, faça tal coisa”, porque tem a ver com as decisões de um ser humano fictício em cima de um conflito fictício, mas esse conflito imaginativo vai ter a ver com um conflito real ou vai ser uma analogia em relação a um conflito real, ou uma metáfora de um conflito real. E essa é a grande base de todas as histórias.
Os elementos de uma história — a Pirâmide do Roteiro
Se eu te afirmar que todas as histórias possuem os mesmos elementos, então preciso destrinchar quais são e para que servem para que aceite.
Bem, na base de toda história boa, teremos tema, em seguida o personagem, depois conflito, aí trama e, finalmente, estilo.
Enfim, o que seria o tema? Quando é explicado isso, muitas pessoas negam a resposta porque parece didático demais; simples ou bobo demais. Mas o tema é a tal da moral da história. Só que todas as histórias têm moral?
E precisamos ir mais fundo sobre isso. A gente só vai conseguir isso se encontrarmos a definição dos outros elementos. Na verdade, precisamos entender que a moral da história é o tal do conhecimento sobre a natureza humana, que é tão importante passar, compartilhar, através de experiências.
E vamos precisar de personagens para compartilhar uma experiência, porque são eles que vão representar uma ou várias facetas de seres humanos.
Já pensou como é personagem em inglês? Bem, é character, né? Mas como é character em português?
A resposta está na outra tradução: caráter. Porque uma personagem nada mais é do que uma alegoria de caráter. E só se descobre o caráter de um personagem através das suas ações. Claro, não é qualquer ação também.
Sabemos o caráter das pessoas que mais convivemos, porque, ao longo de diversos anos e de diversos “minitestes” de caráter — ou seja, de diversos conflitos que passaram em suas vidas e nas vidas das pessoas —, você viu essas pessoas lidando e tomando decisões nessa vida, dos pequenos aos grandes conflitos, e isso moldou na sua cabeça o caráter dessas pessoas.
E não vamos descrever todo o tipo de caráter de uma pessoa para alguém. Tipo, pensa só, você vai apresentar o fulano que você conhece muito bem para outro grupo de amigos… Então não vai falar que o fulano é “isso, aquilo e mais aquilo”. Você vai é resumir tudo, logo vai ser tipo “ai, esse meu amigo/conhecido/familiar, vocês vão gostar muito porque ele(a) é…” e você usa adjetivos ou uma simples descrição. Ou mesmo “vocês não vão gostar por causa disso…” / “vão achar essa pessoa muito…”.
E esse resumo não quer dizer que a pessoa é só aquilo, mas que aquilo é o retrato que aquela pessoa passou para você agindo mais daquela forma do que de outra. E, dentro de uma história, você só tem aquele retratinho — aquele pouco tempo para passar sua audiência qual seria a alegoria de caráter.
Se você for para todos os lados, dizendo que o personagem é muito bom numa situação, merda em outra, que é irônico naquela, enquanto nessa é muito contraditório, as pessoas não vão conseguir formar uma imagem de caráter; ficará ambíguo demais, e nós não conseguimos tirar nada dessa história.
Isso se deve porque a grande alegoria de caráter na obra — o personagem — é a razão pela qual eu estou me identificando com aquela ficção para tirar algo de lá, mesmo que inconscientemente esse seja o propósito das histórias: de nos conectarmos com o personagem para retirar algum conhecimento daquilo; eu não vou conseguir me conectar — de entender.
Então a alegoria de caráter vai precisar de ações específicas de um personagem para demonstrar o caráter. E qual ação demonstra isso? São as ações de atitude moral.
É por isso que falam que toda história tem moral, porque a atitude de um personagem que demonstra caráter somente é aquela que afeta outros. Se afeta outros, então tem carga moral.
Segue o exemplo: Eu vou no banheiro e me estapeio no rosto. Para a audiência parecerá que tem alguma carga moral, mas na prática não está afetando alguém. Agora, a forma como esse personagem está se rebaixando e isso eventualmente afetará outros personagens, então, aí sim, será uma atitude moral. Só que daí em diante terá que demonstrar que essa autodepreciação do personagem irá afetar outras pessoas, para que isso tenha uma carga moral. E, sim, você precisará demonstrar isso.
No campo da literatura, esse trabalho é mais fácil, porque há o envolvimento da psique da personagem na narrativa, no entanto, se for filmar uma personagem se estapeando no banheiro, ela sai e não conta pra ninguém, então não teve atitude moral. Se alguém a viu fazendo aquilo ou se ela saiu do banheiro e contou para alguém, já vira uma atitude moral. Essa é a diferença.
A partir do momento que a ação repercute em outras pessoas, é uma atitude moral. É, dessa forma, importante entender em seguida qual é a carga moral disso.
Digamos que há um personagem numa multidão e uma dessas pessoas possui uma sujeira no ombro. Aí vai o personagem e tira a sujeirinha. Bem, se essa pessoa não percebeu que foi retirada — mesmo que alguém tenha feito uma atitude moral de limpar o ombro dela —, então a carga moral é tão mínima que não afetou alguém, já que ninguém percebeu a ação, ao ponto de nem mesmo demonstrar caráter a ponto de afetar algo.
E como fazemos para medir carga moral? É pelo conflito. É por essa resposta que torna o conflito em algo tão importante. Pensa comigo, se eu chego até você e digo, “olha, eu sou muito honesto”. A resposta não poderia ser outra a não ser “não acredito”. Bom, é óbvio, porque eu só FALEI que sou muito honesto para você.
Agora, se você me visse numa loja, e estou comprando algo que custa 10 conto, e passo uma nota de 20 reais para pagar, esperando que me devolvesse 10 de troco, só que o vendedor erra a nota e me entrega uma de 100 sem perceber. Vendo esse erro, eu já mando: “Calma aí, chefia, tu errou o troco”.
Por eu ter tomado uma decisão que tinha risco — uma vez que havia conflito; algo a GANHAR, caso eu tivesse aceitado o dinheiro —, eu acabei sendo testado. Só que o conflito não testava minha habilidade de ser um bom pai ou um bom colega. Não, aquilo testava a minha HONESTIDADE e nenhum outro aspecto do meu caráter. O jeito como saio desse teste é sendo honesto.
Você, que analisa essa atitude de longe, me julga sendo MAIS HONESTO do que se NÃO TIVESSE VISTO.
E quanto maior o valor… Digamos que fosse a raspadinha da loteria premiada em mais de 100 mil reais, e eu pego ela e devolvo para a pessoa, você me julgaria MUITO MAIS honesto. É claro que existem outros fatores incluídos na equação. Se eu sou milionário, você julgaria isso como se o dinheiro não tivesse tanta importância para mim; não tem tanto risco para mim.
E é por essas que o conflito tem muito mais a ver com o risco; não qualquer risco, mas sim o emocional. Porque o dinheiro, voltamos para a quantia dos 90 reais de troco que recebi, fosse usado para alimentar os meus filhos, já que estou desempregado, então seria diferente. Até porque a audiência, por mais que aquilo não seja moralmente honesto, vai estar moralmente inclinada em aceitar a “desonestidade” de um personagem.
Isso é por causa do risco emocional para aquele personagem que está demonstrando que precisa do dinheiro, e aquilo foi mais forte.
Agora dá para entender mais essa questão do conflito. Então, quando chega alguém e diz para mim que nem toda mídia precisa de conflito, na verdade NECESSITA. Só que essas pessoas precisam entender que o conflito não precisa ser uma explosão, um meteoro vindo pra Terra, alienígenas invadindo… Não precisa ser isso.
O objetivo da trama pode ser sobre um protagonista abrir uma barraquinha de coco na praia. Aí você pode pensar: “Ai, que risco bobo”. Agora imagine que é um cara que acabou de sair da cadeia e tem uma mulher e um filhinho, só que essa mulher impede que ele veja o filho enquanto não ser uma pessoa confiável e digna. Dessa forma, abrir essa barraquinha de coco de repente se torna uma missão para demonstrar à esposa que ele pode ser uma pessoa honesta e ganhar um dinheirinho certo e sair do tráfico.
Em seguida, ele se depara com duas opções: voltar ao tráfico e ganhar uma puta grana, enfim sustentando seu filho e mulher; ou lutar todo dia, pouco a pouco, para abrir a barraquinha de coco de forma honesta e ganhar uma graninha, e ainda conquistando a confiança da esposa.
Só de ir todo dia à praia, abrir a barraquinha e tentar vender o coco já é um puta risco emocional ao ponto da audiência estar investida. Não é necessário colocar o tráfico, os tiros, porradaria… Só dele ir para a praia já estabelece esse risco emocional e a gente vai estar com o personagem.
Risco emocional é tudo. É o porquê de eu me importar com o personagem indo atrás do seu objetivo. Esse objetivo só vai ser digno de empatia porque o que a gente criou com o personagem é a questão da empatia. E empatia não é necessariamente simpatia. Eu não preciso concordar que o protagonista está, por exemplo, roubando um banco. Preciso entender que ele está roubando um banco porque ele acha que essa é a melhor forma de conseguir o dinheiro para a operação caríssima da sua filhinha que ele não tem como custear.
Aí assumimos que é errado, mas entendemos o ponto de vista dele de roubar o banco.
Enfim chegamos na pergunta chave: O que é uma história (story)? Uma história é basicamente esses três elementos na base da pirâmide:
É um personagem sendo testado por um conflito, e como esse personagem sai desse conflito — as consequências desse conflito — nos traz uma moral da história; um conhecimento. Claro, esse conhecimento vai ser subjetivo — cada pessoa vai tirar algo da história de acordo com sua experiência. No entanto, o bom autor, o bom escritor, é aquele que, mesmo da forma mais sutil possível, saberá direcionar sua audiência para que todo mundo saia debatendo sobre a mesma coisa. Ninguém vai sair da história falando que foi uma história de amor, enquanto outra diz que é sobre guerra e uma diz que é sobre religião.
Se isso ocorre, então quer dizer que o comunicador, o autor, não soube comunicar sua mensagem; o seu ponto de vista sobre a natureza humana que ele queria passar, e isso é uma falha de comunicação.
Então, esses três elementos (tema, personagem e conflito) são o que chamamos de Story, porque, olha só, os outros dois seriam o Telling.
E o que é Storytelling? Bem, existe a parte da história… e tem a outra que é de contar ela.
Você sabe o que almoçou hoje, né? Mas o que é que você almoçou na terça-feira passada? Se lembra? Você consegue me contar o que fez nessa terça-feira passada e o que aconteceu?
Uma coisa importante para entender a diferença entre Story e o Telling é que o primeiro pode ser tudo o que aconteceu no seu dia. Sim, provavelmente você escovou os dentes, tomou banho; você fez coisas que não contou.
A trama é a ordem e seleção de eventos para engajar a audiência.
Então, ao invés de me contar que você acordou, bocejou, parou o despertador, escovou os dentes, tomou café ou o que você tomou no café, você me contou aquilo que achou relevante. Então a ordem e seleção de eventos vai ser onde encontrará o que é relevante para mostrar aquele conhecimento sobre a natureza humana que quer passar.
Assim você vai selecionar somente o importante daquela história para mostrar aquele personagem lidando com aquele tipo de problema, e não todos os tipos de problemas.
Você não vai falar que ele passou não sei quanto tempo tentando amarrar o cadarço do tênis, porque isso não faz sentido.
Se lembra da dificuldade em lembrar do que comeu na terça passada, né? Agora, se você já esteve num acidente de carro, não é curioso como você ter essa imagem muito mais clara do que o prato que comeu na terça-feira?
Dizem muito sobre a diferença entre a notícia de jornal e a história de jornal:
A primeira vai falar que cento e tantas pessoas morreram no desabamento de terra durante a descida de algum lugar.
Já a segunda, a história, vai falar do ponto de vista de uma pessoa que vivenciou aquilo, e porque teve essa conexão emocional, a gente se engaja mais. Ou, então, ao assistir a notícia, com dados acontecendo, você pode ter pego alguma coisa que o fez reagir: “Meu Deus! O Eduardo tava lá!”, e de repente você criou um engajamento porque aquilo faz parte da sua experiência; teve um risco emocional para você. E por ter criado esse engajamento, aquilo vai fazer parte da sua memória e conhecimento para sempre.
Coisa que cento e tantas pessoas sofreram X pode ser esquecido no dia seguinte.
Então a trama é muito importante, e a gente entendeu sobre colocar e o que não colocar. Porque tem muitas pessoas que querem, por exemplo, inverter a ordem de como contar, ou contar de um jeito, colocar mais ou menos informação por razões muito aleatórias. O mais importante aqui é o seu ponto.
Qual é o seu ponto e como você dá clareza a ele.
Não é engraçado que se às vezes quando acontece uma coisa muito absurda, esquisita ou interessante no seu dia anterior você não conta as coisas na ordem?
Vamos fingir que você chegou do trabalho e no dia seguinte chega me dizendo: “Ei, você não sabe o que aconteceu… Capotei o carro”. Não parece que está começando pelo fim?
E o que realmente é cômico é pensar que tem muitas pessoas que falam que, quando você começa pelo fim, você está criando uma estrutura avançada de se roteirizar. Na verdade, não. Não tem essa de estrutura avançada de roteirização. Você só está contando como contaria no mundo real — e isso é importante.
Observe. Nós, seres humanos, como um todo, já temos uma boa habilidade de contar histórias. É que, quando escrevemos, a gente complica. Então você tem que já usar as habilidades que a gente contaria normalmente: tirar coisas e exagerar em outras, não ficar enrolando porque você vai colocar coisas aleatórias. Vai ficar falando: “Olha só a música que tocava no carro quando capotei”, “a temperatura…”, “a luz do luar estava refletindo nas janelas de um jeito…”.
Todas essas coisas fazem parte do que chamamos de estilo. E o que é?
Existe diversas pessoas que são analfabetas, mas que são exímias contadoras de histórias. Pessoas que não entendem de linguagem, mas que entendem de como engajar uma pessoa, e isso é muito importante a gente criar distinção, porque, quando vamos analisar um filme, uma série ou livro, acabamos analisando da forma errada em termos de prioridade. Então, imaginem que a primeira coisa que a gente vê começa por cima:
A nossa visão possui esse ângulo, então vemos primeiro o estilo. Porém o que é o estilo?
O estilo é tudo o que tem a ver com a mídia.
O estilo é tudo o que tem a ver com a mídia. No cinema, tem a ver com a câmera, a trilha sonora, atuação, as cores de filtro, movimento da edição; na animação tem a ver com o uso de cores, melhora ou piora da animação; na literatura, a linguagem; no teatro, a atuação, o figurino…
Então a gente começa analisando enviesado pra essa coisa da percepção. É como se a gente tivesse analisando um presente pela embalagem — é uma coisa extremamente contrária.
É bom começarmos a entender o “pra que”. Pra que que foi contada essa história?
E uma forma certa de sabermos a resposta é tentar descobrir lá no “final das contas” como esse personagem, ou personagens, que foram afetados, saíram disso tudo. O que era no começo e comparar com o final, entendendo para que serviu tudo isso. Para isso, precisamos começar com histórias supersimples e daí expandindo para complexas.
Muito bom
NÃOOOOOOOOOOOOO O EDUARDO, NÃO!
show
Magnífico
Que lindo!